DORES

Todas as dores doem; espremer uma espinha dói, bater a canela na quina da gaveta dói, parto dói, dor de barriga dói. Prender dedo na porta, dói; dói não ir bem na prova, dói ser excluído do grupo, dói não ser aprovado no teste, dói tanta coisa. Muitas coisas doem. Mas nada dói tanto quanto a dor da alma; porque a dor da alma fica doendo, remoendo, pulsando, corroendo. A dor da alma não pára. Não se resolve, ela angustia e fecha o peito, como uma garra na garganta. E já não se confia em si mesmo; parece que se tem um inimigo alojado dentro de si.
O Tarô representa este estado de aprisionamento mental na carta do Nove de Espadas, aquela medonha, de dores e aflições, ansiedades, noites mal dormidas. Todo nove é um número de poder; o Nove, na numerologia, é o Deus dos Deuses, o Deus que treina os outros Deuses. Assim, qualquer 9 é a culminação máxima do tema do naipe em questão. O 9 é aonde o naipe encontra sua expressão perfeita, diferente do 10 que é o encerramento do tema, mas um final que já prenuncia um novo começo (10=1+0 =1), ou seja, o Dez traz em si ao mesmo tempo, o fim e a semente para um novo começo, o Ás.
O Nove de Espadas é a carta do corte profundo, da crueldade perfeita, da dor absoluta, do aprisionamento físico, mental ou emocional. Pode expressar que você será vítima de uma crueldade como também esta passagem por momentos de profunda dor psicológica, estados de medo e ansiedade , hoje em dia tão comuns na nossa vida, como os transtornos de pânico, TOC, e etc, que nada mais são do que a expressão do medo.
A dor do Nove de Espadas não; ela é interior, é quando a consciência se afunda no lago negro das emoções sombrias: quando se duvida de si mesmo. Acho muito interessante que um baralho criado há tanto tempo possa expressar esses sentimentos que hoje nos afligem cada vez mais. Na verdade, somente as épocas mudam e se nomeiam os sentimentos com outras palavras. Mas as dores da alma sempre existiram, simplesmente não se medicavam. Culpa, desespero, agonia, são os nomes dos sofrimentos a ela associados.
Acho que, como o Nove é o regente expressivo de cada Naipe, o Nove de Espadas é a culminação do tema iniciado no As: a força do intelecto que tudo compreende, mas que, dependendo de como for utilizada, pode levar a uma repressão das emoções, das ansiedades e assim, para um desconhecimento profundo de si mesmo. Quando a mente funciona desconectada dos sentimentos, quando se pensa que se possui mais força do que se tem na realidade, ou quando simplesmente o destino nos dá uma rasteira, é preciso ser sábio para lidar com as emoções, porque, embora possamos saber tudo, sempre agiremos baseados no que sentimos e, se não sabemos como nos sentimos, então seremos vitimas dessas nossas emoções..... e então buscaremos entendê-las....
De qualquer modo, o Nove é a Carta da Sabedoria, o Eremita, o Poder do 3 vezes 3. A crise que esta carta anuncia deve ser utilizada da melhor forma possível, para que se passe por ela, crescendo e aprendendo, cada vez mais sobre si mesmo.